quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Relato de testemunha do massacre de Deir Yassin

Transcrevo abaixo o trecho do livro "A Jérusalem, un drapeu flottait sur la ligne de feu", escrito por Jacques de Régnier, chefe da delegação do comitê internacional da Cruz-Vermelha em 1948-49, que chegou à aldeia de Deir Yassin no dia seguinte ao massacre cometido pelo grupo terrorista sionista Irgun.


            "Chego com meus carros e ambulâncias à aldeia, o fogo cessa. A tropa está de uniforme de campanha, com capacete. Todos jovens e até mesmo adolescentes, homens e mulheres, armados até os dentes: revólveres, pistolas automáticas, granadas, mas também grandes facões que seguram nas mãos, a maioria ainda ensanguentados. Uma moça, bonita, mas com olhos de criminosa, mostra-me o seu, ainda gotejando, que exibe como um troféu. É a equipe de limpeza que executa, de certo muito conscienciosamente, seu trabalho.
             Tento entrar numa casa. Uns dez soldados me cercam, as armas apontadas contra mim, e o oficial me proíbe de sair do lugar.
             -Se houver mortos nós os traremos, diz.
             Fico então possesso, dizendo a esses criminosos tudo o que penso do seu modo de agir, ameaçando-os com toda a fúria possível; depois empurro os que me cercam e entro na casa.
             O primeiro quarto está escuro, tudo em desordem, mas não há ninguém. No segundo, encontro entre os móveis quebrados, cobertores, destroços de toda espécie, alguns cadáveres, frios. A limpeza aqui foi feita com pistola automática, depois com granada; terminaram-na à faca, qualquer um percebia. Mesma coisa no outro quarto, mas quando eu ia sair, escuto como que um suspiro. Procuro por toda parte, desloco cada cadáver, e acabo por encontrar um pequeno pé ainda quente. É uma menina de dez anos, atingida de muitas formas por uma granada, mas viva ainda. Como quero levá-la, o oficial barra a porta, procurando impedir-me. Eu o empurro e passo com o meu precioso fardo... A ambulância carregada parte, com ordem de voltar o mais depressa possível. Já que a tropa ainda não ousou me atacar diretamente, tenho a possibilidade de continuar. Dou ordem para que ponham os cadáveres dessa casa no caminhão e entro na casa vizinha e assim por diante. Por toda parte, o mesmo espetáculo medonho. Só encontro mais duas pessoas vivas, duas mulheres, sendo que uma delas é uma velha avó, que se mantivera escondida atrás do feixe de lenha e imóvel há pelo menos vinte e quatro horas.
             Havia quatrocentas pessoas nessa aldeia, umas cinquenta fugiram, três ainda estão vivas, e todo o resto foi massacrado cientemente, voluntariamente, pois, pude verificar, essa tropa é muito bem acobertada e age cumprindo ordens.
             Volto para Jerusalém, vou à Agência Judaica, onde encontro chefes consternados mas desculpando-se e pretendendo, o que é verdade, que sempre disseram não ter nenhum poder sobre o Irgun, nem sobre o Stern (grupos terroristas formados por judeus sionistas). Mas o fato é que nada fizeram para impedir uma centena de homens de cometer este crime inqualificável."

Quanto a constante declaração de que o Estado de Israel não tinha controle sobre o Irgun, temos que refletir sobre o seguinte registro, retirado do livro "O amor mais forte que a morte":

"Quando, após a guerra árabe-israelense, o Estado sionista quis indenizar os membros de suas forças armadas feridos durante os combates, quatro assassinos de Deir Yassin apresentaram um requerimento nesse sentido, que foi primeiramente rejeitado:
  
-Vocês não faziam parte das forças regulares, responderam-lhes.

Mas esses antigos combatentes foram à Alta Corte de Justiça, cuja sede era em Tel-Aviv. Fizeram valer seus direitos, lembrando que tudo o que se produzira em Deir Yassin não teria sido possível sem o assentimento efetivo da Agência Judaica e do comando da Haganah. A Alta Corte levou em consideração o fundamento de sua defesa; foram todos os quatro indenizados integralmente, da mesma forma que os combatentes das forças regulares."

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Campos de oliveiras se tornam campos de batalha na Cisjordânia

Agricultores palestinos têm de ser escoltados por soldados israelenses e ativistas internacionais, devido a represálias de judeus radicais dos assentamentos. Estes radicais consideram que as terras ocupadas lhes foram prometidas por Deus.

Esta seria uma estratégia utilizadas pelos colonos para impedir o congelamento dos assentamentos exigido pela comunidade internacional.

Para Dany Dayan, presidente do Yesha Council (organismo responsável por proteger e defender os interesses dos colonos) as acusações dos palestinos não passam de uma campanha para "demonizar Israel".

Os números oficiais, no entanto, contradizem Dayan. Desde o início da colheita houveram 27 ataques a plantações palestinas e nenhum contra judeus. Segundo a polícia israelense, 16 pessoas já estão sendo interrogadas por ligação com as ondas de violência.

No entanto, uma ONG na Cisjordânia afirma que, nos últimos anos, houveram quase 100 denúncias de árvores destruídas apresentadas por agricultores palestinos, e nenhuma destas resultou em acusação formal.

Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/10/25/campos-de-oliveiras-na-cisjordania-crescem-como-ponto-de-violencia-entre-israelenses-palestinos-922861730.asp

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Estado Palestino será criado em 2011, diz premiê

Farei uma análise crítica de alguns pontos da notícia, que poderá ser lida na íntegra na página http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,estado-palestino-sera-criado-em-2011-diz-premie,631106,0.htm

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mais uma vez tenta bloquear as tentativas de paz. Além de continuar com os assentamentos em território palestino, pela sua postura, dificilmente irá aceitar a criação de um Estado Palestino. A política dele é a seguinte: destrói-se o vilarejo palestino para construir um novo assentamento israelense.

Quanto ao Hamas, devemos lembrar que ele chegou ao poder democraticamente.  Foram eleitos pelo povo, cansado de acreditar na postura do Fatah, que acabava cedendo demais às exigências de Israel, sem contudo, ter contraprestações significativas e equivalentes. As intenções do Fatah são boas, porém o povo desejava mudanças. O Hamas, apoiado pelo povo, indiferentemente de orientação religiosa, colocou a ONU em uma sinuca. A Palestina sempre fora pressionada a adotar a democracia, e justamente esta democracia levava ao poder um grupo que nunca aceitou as concessões dadas a Israel pela OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

Deveriam os líderes do ocidente ir contra a democracia aplicando sanções contra a Palestina e seu novo governo eleito através do voto? Mesmo sabendo do trabalho humanitário realizado pelo Hamas para auxiliar as famílias das pessoas mortas e criar escolas para as crianças?

O Hamas decidira aderir a um modo mais político de ação e até existe a possibilidade de reconhecerem Israel e trabalhar em uma solução entre dois Estados, fato que não deve ser desconsiderado. Devido à desconfiança internacional, aceitaram formar um governo de coalizão com o Fatah. O Hamas em Gaza e o Fatah na Cisjordânia.

Enquanto não houver um partido de cunho mais progressista governando Israel, será impossível conseguir a paz. Embora existam os partidos moderados em Israel, que defendem que se devolva todo território que exceda o determinado na partilha da ONU, estes acabam tendo que assistir seu governo promovendo a morte dos árabes e da população israelense neste ciclo de ataques-revides que duram décadas.

Terrorismo ou Resistência?

A propaganda israelense sempre tentou passar a imagem (inclusive utilizando da mesma analogia) de que era semelhante a Davi lutando contra Golias (representado nas forças de resistência palestina).
Talvez, no princípio do conflito isto pudesse prevalecer. Com a velocidade dos meios de comunicação que temos agora, podemos ter um acesso mais rápido à realidade daquelas pessoas marcadas pelo conflito.

De um lado temos a Resistência Palestina, reconhecida como direito inalienável dos palestinos. O direito de reinvindicarem suas terras e retornarem à elas. Direito reconhecido pela ONU.
Do outro, israelenses tensos devido às constantes ameaças que sofrem por habitar uma região que não é sua de direito, iludidos por um governo desprezível, que aproveita este sofrimento de seus cidadãos para tentar convencer o mundo de que Israel é a grande vítima da história. Os cidadãos sim, são vítimas. Os cidadãos de ambas as partes.



Voltando ao questionamento que intitula esta postagem, quero fazer uma comparação breve das práticas nazistas na 2ª Guerra.

Na conhecida história do levante no Gueto da Varsóvia, os judeus lutaram bravamente para proteger seus entes queridos. O governo de Hitler classificou-os como "bandidos", "terroristas" (qualquer semelhança com a ditadura no Brasil não é mera coincidência - desclassificar a resistência, reduzindo-a pejorativamente à terrorismo é típico de Estados militaristas e despóticos). Os judeus (assim como os ciganos, cidadãos do leste europeu, homossexuais, etc - estes que nunca receberam indenização ou reivindicaram a criação de um estado para si, nem muito menos cometeram genocídio por o terem sofrido) eram postos em campos de concentração, torturados, espancados, mutilados. Não se fala muito sobre os desnecessários ataques aliados contra cidades alemãs desmilitarizadas que resultaram na morte de milhares de civis. Civis estes que, em sua maioria, não apoiavam o nazismo. Mesmo que apoiassem, não representavam ameaça alguma.


Troque alemães por israelenses, judeus por palestinos, Varsóvia por Gaza, nazismo por sionismo. Você terá o retrato fiel do conflito na Palestina

Neturei Karta - Judeus ortodoxos anti-sionistas

É isso mesmo, você não leu errado. Um grupo de rabinos ortodoxos conhecidos como Neturei Karta é responsável por atos de conscientização ao redor do mundo. Eles afirmam que o Estado de Israel é ilegal, não só juridicamente falando, mas também de acordo com os preceitos basilares da religião judaica.

Eles acusam o estado de Israel de matar os palestinos de fome e sede, matar populações civis propositalmente e de passar uma imagem negativa dos judeus.

Eles lutam para mostrar que judaísmo e sionismo são distintos, e que os judeus ao redor do mundo podem acabar sendo discriminados por ações na qual se opõem.

Relatam também sobre a exploração dos judeus orientais por parte dos invasores.

Já visitaram diversos líderes de países árabes em uma atitude de respeito e tolerância. Respeito e tolerância que sempre existiu no território palestino. "Os árabes nunca se recusaram de ensinar nossas crianças em suas escolas nem nos impediu de praticarmos nossa religião."

A mídia reluta em mostrar todos os lados da história, devido o preconceito europeu colonizador. Lembremos a quantos anos os europeus roubaram a terra dos índios brasileiros. Pouco mais de 500 anos. Se fôssemos exigir que as etnias retornassem a seu lugar de origem de acordo com o critério sionista (milhares de anos), todo o globo passaria por um processo absurdo e impossível de ser concretizado.

para mais informações visite: http://www.nkusa.org/

Lei brasileira autoriza o Poder Executivo a enviar recursos à Gaza

Notícia antiga, porém de grande importância: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12292.htm

A Declaração Balfour


Inicio as postagens neste blog mostrando um fato histórico crucial que desencadearia no conflito palestino-israelense que perdura até os dias de hoje gerando mortes, dor e sofrimento para diversas famílias.

O fato histórico acima referido se trata da Declaração Balfour. Esta declaração data de 2 de novembro de 1917, e é um documento que declara a simpatia por parte do Governo Real Britânico ao movimento sionista (movimento criado por Theodor Herzl que defende a existência de um Estado Judeu. Falarei mais sobre este movimento em outra postagem, para poder dar mais atenção à Declaração Balfour).

Neste documento, temos a declaração de simpatia por parte do governo britânico em estabelecer um "lar nacional na Palestina para o povo judeu". O território da Palestina, até a 1ª Grande Guerra, pertencia ao Império Otomano. Tanto a maioria muçulmana, quanto os judeus e cristãos que lá residiam eram oprimidos pelo império. Outros territórios eram parte do imperio, como a Síria, por exemplo. A promessa dada pelo governo britânico aos árabes (representados pelo Xerife Hussein na época), garantia a eles um território  que englobava a Palestina, caso vencessem a guerra.

Com o fim da guerra, a Inglaterra se enfraqueceu devido aos gastos decorrentes dela. Entre a 1ª e 2ª Grande Guerra, o movimento sionista passa a incentivar os judeus europeus a se estabelecerem na Palestina. Neste período, a Inglaterra era mandatária do território, de acordo com o disposto no Pacto da Sociedade das Nações.

Surgiu então um grupo chamado Irgun. Tratava-se de um grupo terrorista composto por judeus radicais que queriam por meio da força estabelecer um Estado Judeu nos territórios compreendidos pela Palestina, praticando atos violentos: atacando mesquitas repletas de pessoas, vilarejos e mesmo britânicos.

A Inglaterra, enfraquecida economicamente e vendo a inviabilidade de continuar governando provisóriamente a região, acaba realizando a partilha entre palestinos e israelenses.

Aproximadamente 600 mil judeus teriam direito a 54% dos territórios, enquanto 1,4 milhão de palestinos ficaram com os outros 46%.

A grande discussão sobre a Declaração Balfour é a seguinte:

Do ponto de vista israelense, um "lar nacional judeu" implicava na criação de um Estado Judeu. Ele estaria concretizando um direito de retorno a uma terra que viviam a cerca de 2000 anos antes. Para voltar era preciso comprovar a descendência judia.

Do ponto de vista palestino, um "lar nacional judeu" implicava na inclusão dos judeus em um Estado Palestino, sem a retirada deles da terra em que viviam. Até porque expulsá-los seria uma violação ao próprio Pacto da Sociedade das Nações, cujo Art. 22 estabelece que, para os territórios libertados após as guerras, seria escolhido um mandatário responsável pelo auxílio na implantação de um governo estabelecido pela população local, sendo preservada a mesma contra qualquer tipo de abuso, legitimando o direito à terra quem lá já morava.

Uma coisa é certa: a vida pacífica de judeus, muçulmanos e cristãos que lá moravam antes sempre foi caracterizada pelo respeito e tolerância. Os extremistas judeus-europeus que lá queriam, à força, tomar terras dos locais, acabaram por gerar um extremismo oposto do povo que se pôs a resistir contra a agressão injusta. Talvez isto tenha sido gerado pelo racismo europeu em relação aos judeus, até porque, muitos anti-semitas europeus apoiaram a criação do Estado de Israel.

O povo palestino e israelense sofre até hoje, e continuará assim se o governo israelense insistir em continuar fazendo discursos de paz em um mês, para no mês seguinte utilizar "fósforo branco" contra a população civil árabe.